Trata-se de uma condição que acomete a região da bexiga, geralmente causada por infecções ou inflamações
A trigonite é uma condição que afeta a região do trígono vesical, entre a uretra e os meatos uretrais. Embora possa ser confundida com infecção urinária comum ou cistite, devido à semelhança dos sintomas, trata-se de uma condição distinta, que requer diagnóstico preciso e tratamento adequado para aliviar os sintomas e prevenir complicações.
O que é trigonite?
A trigonite é uma condição que afeta a bexiga, mais especificamente uma área chamada trígono vesical. O trígono é uma região da bexiga formada pelos pontos de entrada dos dois ureteres, que são os canais que transportam a urina dos rins para a bexiga, e pela abertura da uretra, que é o canal por onde a urina sai da bexiga para fora do corpo.
O revestimento original da bexiga, conhecido como urotélio, é especializado em lidar com a urina e proteger a bexiga de irritações. No entanto, na trigonite, ocorre um processo de metaplasia, no qual as células normais do revestimento da bexiga são substituídas por um tipo de célula diferente, geralmente células escamosas, que são típicas de outras partes do corpo.
Quem é o grupo de risco?
A trigonite ocorre quando o tecido da bexiga reage a inflamações, geralmente causadas por infecções ou lesões. Mulheres jovens, especialmente aquelas com síndrome uretral, uma condição que afeta a região do trígono da bexiga, estão mais propensas a desenvolver essa condição.
Fatores como infecções urinárias frequentes, uso prolongado de cateteres e alterações hormonais podem aumentar o risco dessa condição, pois as infecções repetidas danificam o tecido da bexiga, provocando inflamação, o que resulta nas alterações celulares características da trigonite. No entanto, na literatura médica há poucos indícios das verdadeiras causas da trigonite.
A trigonite apresenta sintomas?
Ainda que algumas pacientes possam ser assintomáticas, a trigonite frequentemente se manifesta por uma série de sintomas relacionados ao trato urinário. Os mais comuns incluem:
- Aumento da frequência urinária, fazendo com que a paciente sinta a necessidade de urinar com mais frequência do que o habitual;
- Ardência ou dor ao urinar;
- Sensação de urgência, que é a sensação de precisar urinar de forma repentina e intensa;
- Incontinência urinária, caracterizada pela perda involuntária de urina;
- Infecções urinárias de repetição.
A trigonite é perigosa?
De maneira geral, a trigonite apresenta um bom prognóstico. No entanto, se não tratada de forma adequada, ela pode levar a complicações sérias, como danos permanentes na mucosa da bexiga, infecções urinárias recorrentes e comprometimento da função urinária.
Embora a trigonite envolva uma transformação celular no tecido da bexiga, essas alterações são benignas. Ou seja, apesar da modificação das células, não há risco de a condição evoluir para câncer, pois as células alteradas não têm potencial maligno. Porém, se houver mutações de outros tecidos próximos ou sangue na urina, é fundamental realizar uma investigação adicional para descartar a possibilidade de câncer.
Como a trigonite é diagnosticada?
O diagnóstico da trigonite é realizado por meio da cistoscopia, um exame no qual um instrumento fino, equipado com luz e uma câmera, é inserido na uretra, permitindo visualizar diretamente o interior da bexiga e da uretra em um monitor. A área afetada pode apresentar uma coloração branca brilhante e uma textura diferente do revestimento rosa normalmente encontrado na bexiga, o que é suficiente para confirmar o diagnóstico.
Embora testes como urinálise e cultura de urina possam ser feitos para excluir outras condições urinárias, eles não são capazes de diagnosticar a trigonite. Em alguns casos, quando há presença de sangue na urina ou a alteração no tecido parece se estender para outras áreas da bexiga, pode ser necessária a realização de uma biópsia para verificar se há alterações que possam indicar risco de câncer.
Quais os tratamentos da trigonite?
Atualmente, o tratamento da trigonite deve ser personalizado conforme as necessidades de cada paciente. As opções incluem o uso de antibióticos, estrógenos vaginais, cauterização do trígono e terapias intravesicais, que consistem na administração de medicamentos diretamente na bexiga, geralmente por meio de um cateter inserido pela uretra.
Se a trigonite não apresentar sintomas, o tratamento pode não ser necessário. Para os casos sintomáticos, alguns medicamentos e procedimentos podem aliviar os sintomas, embora os resultados variem de pessoa para pessoa. Entre as opções de tratamento para trigonite sintomática, estão:
- Cremes vaginais com antibióticos: ajudam a tratar a infecção localmente, aliviando sintomas como ardência, aumento da frequência urinária e desconforto, prescritos de acordo com o agente infeccioso identificado.
- Antibiótico: medicamento oral que pode ser prescrito para tratar infecções bacterianas associadas à condição;
- Estrogênio tópico para tratar atrofia genital;
- Tratamento endoscópico para cauterização com laser Nd:YAG ou eletrocautério: usado em casos graves, quando as alterações na bexiga causam lesões ou danos visíveis ao tecido, o laser ajuda a regenerar o tecido comprometido.
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Fonte:
Sadeghi Z, MacLennan G, Childs SJ, Zimmern PE. Is trigonitis a neglected, imprecise, misunderstood, or forgotten diagnosis? Low Urin Tract Symptoms. 2019 Sep;11(4):182-188. doi: 10.1111/luts.12264. Epub 2019 Apr 15. PMID: 30989795.
Stavropoulos, M., Papatsoris, A. G., Konstantinidis, C., Chrisofos, M., Pseudomembranous Trigonitis: A Common but Underrecognized Urological Entity, Advances in Urology, 2010, 269254, 3 pages, 2010. https://doi.org/10.1155/2010/269254